Uma comissão chilena que investigou a tortura contra presos políticos durante a ditadura do general Augusto Pinochet entregou ontem um informe que inclui novos casos, inclusive, os de 87 meninos de 12 anos vítimas dessas práticas, revelou o presidente Ricardo Lagos ao receber o documento. "Na relação que nos foi entregue aparecem 87 crianças menores de 12 anos", afirmou Lagos. A maioria dessas crianças foi presa junto com seus pais e algumas delas disseram ter sofrido torturas, segundo fontes da comissão, apesar de a identidade das vítimas precisar ser mantida em sigilo pelos próximos 50 anos.
Os novos casos complementam o primeiro informe que a comissão entregou em novembro passado com os testemunhos de 28 mil presos. Segundo seus relatos, eles foram submetidos a práticas de tortura por agentes do regime de Pinochet (1973-1990). A "Comissão Valech", encabeçada pelo bispo Sergio Valech, desconsiderou outros sete mil casos por falta de provas suficientes, quando entregou suas conclusões e recomendou o pagamento de indenizações às vítimas.
De acordo com o mecanismo da comissão, os ex-presos da ditadura que não foram incluídos para receber estas indenizações tiveram a possibilidade de pedir a revisão de seus depoimentos. Destes novos estudos surgiu o informe final, que acrescentou 1.201 casos ao documento de novembro e que o bispo Valech entregou ao presidente Lagos no Palácio de La Moneda. "Essas 1.201 pessoas terão os direitos de reparação estabelecidos na lei que oportunamente foi aprovada pelo parlamento do Chile", declarou o presidente. A lei estabelece uma pensão mensal vitalícia de 112 mil pesos (US$ 190) e um bônus de mais US$ 5 mil, enquanto os filhos das vítimas nascidos em prisão receberão uma indenização de US$ 7 mil.
Mulheres violentadas
Dos 35 mil depoimentos que a "Comissão Valech" ouviu entre novembro de 2003 e novembro de 2004, 12,5% eram de mulheres que afirmaram ter sido vítimas de violência sexual sem distinção de idade. "Sofri golpes e aplicação de choque em todo o corpo. Fui pendurada pelos pés e mãos e me taparam a boca com uma toalha, num momento em que estava grávida (um mês). Fui violada por diferentes homens", relatou uma jovem detida em Santiago em 1975.
"Num recinto secreto fui torturada, amarrada e vendada. Chutaram-me e me deram socos. Aplicaram-me choques em diversas partes do corpo. Meus dentes dianteiros foram arrancados com coronhadas. Sofri abusos sexuais e reiteradas violações que resultaram numa gravidez", recordou outra jovem presa também em Santiago, em 1975. O relatório assinala que os métodos mais utilizados de tortura foram as agressões repedidas, os choques elétricos nas áreas mais sensíveis do corpo, simulacros de fuzilamento, humilhações e vexames, bem como a obrigação de presenciar torturas ou execuções de familiares ou amigos, entre outros.
Fonte:
http://www.vermelho.org.br/diario/2005/0602/0602_pinochet-criancas.asp